CD - Cristovão Bastos e Mauro Senise - Choro Negro - Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola

CD - Cristovão Bastos e Mauro Senise - Choro Negro - Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola

Marca: Cristovão Bastos e Mauro SeniseModelo:Choro Negro - Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola Lançado em: 14/10/2022


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DESCRIÇÃO

 

 

O samba chorado de Paulinho da Viola

ROBERTO MUGGIATI

          A este nosso ruidoso momento, o álbum Choro Negro: Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola vem contrapor o som quase silente do grande mestre da Portela. Já alertava Rimbaud, par délicatesse jai perdu ma vie, num contexto social que ele chamou de le temps des assassins. Pois é armado de suavidade e delicadeza, afrontando a brutalidade dos homens e das ruas, que Paulinho da Viola tece na calada da noite sonhos que tocam fundo na alma e nos dedos de Cristovão e Mauro. Um antídoto para os venenosos dias de hoje, um maná para nossos anseios mais profundos.

          Ana Luisa Marinho fala da gênese deste álbum: Há muito tempo Cristovão e Mauro queriam formar um duo. Cristovão vem fazendo arranjos e participando dos CDs do Mauro, que por sua vez já atuou em alguns discos do Cristovão. Os dois são muito amigos e este projeto é o resultado dessa amizade e admiração mútua. O catalisador foi Paulinho da Viola. Mauro sempre admirou suas melodias, tão modernas e elegantes. Cristovão é parceiro e compadre do Paulinho, que completa 80 anos em novembro. Portanto, esta homenagem faz todo sentido.

          O álbum abre com Um choro pro Waldir, tributo de Paulinho ao mestre do cavaquinho e autor de Brasileirinho. Parceiro de Paulinho nessa canção, Cristovão Bastos faz uma introdução singela, alternando à perfeição os intervalos com som e silêncio, em notas cristalinas de piano, tão revigorantes nesta época de sintetizadores e teclados eletrônicos. Há também algo mais no seu toque, que Edu Lobo soube pinçar admiravelmente: O Cristovão, além da riqueza harmônica, tem a qualidade muito especial de ter um toque carioca, por mais que ele conheça tudo do jazz e muito da música clássica. É formidável esse sotaque do Rio, o que cria uma intimidade ainda maior com os seus ouvintes.

Para este choro lento, Mauro escolheu o sopro ideal da flauta.

          Nada de novo é de uma poesia cortante com sua letra cinematográfica: Papéis sem conta/Sobre a minha mesa/O vento espalha as cinzas que deixei/Em forma de poemas antigos/Relidos/Perdido enfim confesso/Até chorei/Nada mais importa/Você passou/Meu samba sem razão/Se acabou/Um sonho foi desfeito/Alguma coisa diz/Preciso abandonar/Os versos que já fiz/Nada de novo/Capaz de despertar/Minha alegria.

          Volto a insistir no Axioma de Lester Young. Segundo o saxofonista tenor pai do estilo cool, todo instrumentista precisa ter sempre na cabeça a letra da canção. Vi Mauro outro dia, num depoimento à TV, contar como amadureceu na arte do improviso com a ajuda de Wagner Tiso. Aprendeu que improvisar não era sair por aí a mil tocando escalas e frases feitas. Era muito mais: tratava-se de contar uma história. A criação de uma nova melodia, dentro da grade harmônica do tema escolhido, exige que ela tenha também algo a ver com a história original.

A qualidade vocal dos solos do piano de Cristovão e do sax soprano de Mauro surge ainda mais acentuada em Coração leviano:

Trama em segredo teus planos/Parte sem dizer adeus/Nem lembra dos meus desenganos/Fere quem tudo perdeu/Ah coração leviano não sabe o que fez do meu.

          Nesta faixa o duo é acrescido do baixo de Jeff Lescowich e da percussão de Jurim Moreira, ambos tão sutis que dão continuidade à atmosfera minimalista do álbum. O quarteto prossegue em Para um amor no Recife, outra promenade pelo romantismo nostálgico de Paulinho. Mauro acentua o clima alternando-se na flauta em sol e no sax alto.

          Vinhos finos... cristais, parceria de Paulinho com Capinam, suscitou este arroubo de Edu Lobo: É uma bela canção de Paulinho que poderia ser o título do CD, porque é isso que ele é mesmo canções que remetem aos grandes compositores como Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola, Zé Kéti e Nelson do Cavaquinho (e tantos outros). Mas que carregam a assinatura fina, cristalina e extremamente pessoal do nosso Paulinho.

          Com seu riff envolvente, Sarau para Radamés homenagem a Gnatalli, o Mestre de todos atesta a rica cornucópia rítmica do instrumental brasileiro, da jazzfieira ao jasmineiro, da sambossa ao sambop, do pife ao xote, do forró ao xaxado. O próprio Paulinho rotulou esse tema como samba chorado. Jeff Lescowich faz um belo solo de baixo e Jurim Moreira conduz a navegação com o seu pandeiro. Outro debate se impõe aqui: a falsa dicotomia entre erudito e popular, que Mário de Andrade derrubou na sua frase irreverente: Popular é o ruim gostoso...

          Assim como Sarau, Paulinho gravou Choro negro como tema instrumental. A faixa-título, traz Mauro no sax soprano, que também intervém em Tudo se transformou, com o quarteto de volta. E a razão desta tristeza é saber que o nosso amor passou. Reparem na releitura semioculta obsessiva da segunda parte de Chega de Saudade (presente na gravação original de Paulinho) e uma citação fugaz a Este seu olhar que Cristovão faz ao longo de seus solos. E observem também o andamento de sambolero, comentário irônico à sofrência da letra.

          As múltiplas passagens em uníssono entre piano e sopro atestam a força dessa simbiose musical entre Cristovão e Mauro. Com este álbum, Senise acrescenta mais um grande compositor da MPB à sua série de Songbooks, que já inclui Edu Lobo (Casa Forte), Dolores Duran e Sueli Costa (Lua Cheia), Noel Rosa (com Gilson Peranzzetta), Gilberto Gil (Amor até o fim) e Johnny Alf (Ilusão à toa). E Cristovão Bastos não só reforça seu compadrio literal e figurado com Paulinho da Viola, mas o brinda ainda com a décima e última faixa do disco, Outonal. Alusão à idade a que chega Paulinho, o que não o desmerece, ao contrário: o torna eterno no coração brasileiro. Coração que, nesta encruzilhada crítica e nestes tempos chorados, pulsa mais forte em nossa arte e principalmente em nossa música.

 

FAIXAS

01. UM CHORO PRO WALDIR
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola / Cristovão Bastos
Editora: artes da Viola (Moleque) / Copyrights Consultoria

02. NADA DE NOVO
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola
Editora: Corisco (Arlequim)

03. CORAÇÃO LEVIANO
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola
Editora: Artes da Viola (Moleque)

04. PARA UM AMOR NO RECIFE
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola
Editora: Sony Music Publishing

05. VINHOS FINOS...CRISTAIS
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola / Capinan
Editora: Warner Chappell / Corisco (Arlequim)

06. SARAU PARA RADAMES
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola
Editora: Artes da Viola (Moleque)

07. CHORO NEGRO
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola / Fernando Costa
Editora: Warner Chappell

08. TUDO SE TRANSFORMOU
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola
Editora: Warner Chappell

09. NÃO ME DIGAS NÃO
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Paulinho da Viola / Cristovão Bastos
Editora: Artes da Viola (Moleque) / Cordilheiras (Sony/ATV)

10. OUTONAL
Intérprete: Cristovão Bastos e Mauro Senise
Autoria: Cristovão Bastos
Editora: Copyrights Consultoria

1 CD em digipack

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